Viriato Moura
Grupo de poetas de Mariana, uma das cidades históricas de Minas Gerais, empreendeu um movimento literário que ganhou fôlego a partir do jornal Aldrava Cultural,lançado em novembro de 2000. Seus autores propunham uma forma poética que denominaram de aldravia, tipo minimalista de poesia que se expressa através da palavra-verso ou verso vocabular. A denominação se originou de termo “aldrava”,peça em bronze ou latão, utilizada desde a Idade Média, que é fixada em portas de entrada de casas para anunciar alguém que nela bate. Esse neologismo, criado por Andreia Donadon Leal para denominar essa forma poética elaborada por Gabriel Bicallho, sugere pedir que as portas da capacidade interpretativa do leitor se abram para que ele interaja vivamente com esses sintéticos poemas.
Uma aldravia é constituída por seis palavras na condição de versos (exceção feita aos nomes próprios duplos e substantivos ou formas pronominais unidas por hífen, que passam a ser considerados como único vocábulo), dispostas uma por linha, sem título (alguns preferem numerá-las) nem uso de letras maiúsculas(exceção aos nomes próprios, para os quais vale a opção do autor) e pontuação(permitem-se apenas os pontos de interrogação ou exclamação).
Em face à sua concisão, as aldravias pretendem mais do que exprimir, visam sugerir. É a poeticidade com simplicidade. Sua incompletude, que provoca o leitor à interpretação pessoal e ao uso deliberado da metonímia, onde partes constitutivas de algo podem representar seu todo no mundo das significações, são colunas de sustentação de seu conteúdo. A simplicidade do texto deve ser observada para que seu entendimento não se torne confuso, incômodo ao leitor. Isso, entretanto, não deve ser confundido com obviedade, que lança a obra na vala comum das produções carentes de valores literários.
Essa modalidade poética, como tantas outras desde a Antiguidade, também dispensa métrica e rima. Não estabelece limitações temáticas como acontece com os haicais tradicionais. Entretanto — eis a sua característica mais marcante —, apalavra, uma única palavra, por ganhar a força de um verso, é valorizada ao extremo, agiganta-se, diversifica-se semanticamente. Seu uso, ao agregar tamanha importância, requer, além de inspiração e atenção agudas do autor,sensibilidade aguçada do leitor para as dimensões de seus significados.
Num mundo globalizado onde os meios de comunicação, em destaque a internet, disponibilizam um número contínuo e infindável de informações, a síntese se impõe para que achemos, o mais rapidamente possível, o verdadeiro sentido das coisas de modo a captarmos máximo que pudermos delas em menor tempo possível.
Como todas as modalidades poéticas, a aldravia sorve na fonte dos sentidos para alimentarseus desígnios essenciais de emocionar.