“O FORNOVO” - Informativo eletrônico do IHGGS e daAHIMTB/SP
ANO: III (2015) -- MARÇO N.º 13
COMBATENTESCONSTITUCIONALISTAS
PORTUGUÊSESNA REVOLUÇÃO DE 1932 EM SÃO PAULO
Quando em 1930 o Presidenteda República do Brasil Washington Luís rompe com a “política do café com leite”([3])e nomeia o governador de São Paulo Júlio Prestes como seu sucessor, que venceas eleições, estava longe de pensar nas consequências que essa sua açãoacarretaria. Como consequência da manutenção de um representante paulista napresidência da república, as oligarquias mineiras promovem um golpe de estadoque, articulado com os estados do Rio Grande do Sul e da Paraíba, colocamGetúlio Vargas no poder. Getúlio tem uma ideia de modernização do país, maspretende fazê-la de forma autoritária, sem consultas eleitorais. O novopresidente fecha o Congresso Nacional, anula a Constituição de 1891 e depõegovernadores de diversos Estados, passando a nomear interventores. Estasmedidas desagradaram profundamente às elites paulistas tradicionais, que exigema criação de uma carta magna que regesse a legislação do país, o que Getúliovai adiando “sine die”. Com o passar do tempo, as tensões foram-se agudizando eas posições dos grupos apoiantes e de oposição ao governoforam-se extremando. No dia 23 de maio de 1932, forças tenentistas([4])e as forças de oposição acabam por se confrontar nas ruas de São Paulo, o queresultou na morte de alguns estudantes em praça pública, que ficaram famososcomo MMDC (sigla das iniciais dos quatro jovens mortos: Martins, Miragaia,Dráusio e Camargo. Mais tarde, adicionou-se a letra A, de Alvarenga, ao finalda sigla, de outro jovem que acabou por morrer por causa de ferimentos obtidosnesse conflito. Essas mortes foram a faísca deflagradora da RevoluçãoConstitucionalista que teve início no dia 9 de julho de 1932. Com a ajuda dosmeios de comunicação em massa, o movimento ganha apoio popular e mobiliza 35mil homens pelo lado dos paulistas, contra 100 mil soldados do governo deVargas. À falta do envolvimento e do apoio esperado de outros Estados na ação,o governo do Estado de São Paulo fica isolado contra o governo central.Seguiram-se quase três meses de batalhas sangrentas, encerradas em 2 de outubrodaquele mesmo ano, com a derrota militar dos constitucionalistas.
Os Portugueses
Tal como outra comunidadesestrangeiras em São Paulo, a colônia portuguesa não ficou indiferente ao climaparticipativo e solidário da Revolta Constitucionalista, contribuindo com somasem dinheiro, mercadorias e intervenção direta. Logo no terceiro dia da eclosãodo movimento armado, ou seja, a 11 de julho de 1932, a comunidade portuguesacongregou-se para prestar todo o auxilio possível aos Paulistas, permanecendoos principiais dirigentes das suas associações em reunião permanente. No Clubeportuguês instalou-se a grande Comissão de Assistência da Colônia Portuguesa deSão Paulo, presidida pelo Sr. Jaime Loureiro. Entre os mais valiosos donativosque essa Comissão ofereceu às autoridades paulistas, figurou o do Sr. MartinsCosta, encaminhado por ofício ao Dr. J. A. Magalhães, cônsul de Portugal.Também as senhoras portuguesas se organizaram espontânea e abnegadamente,prestando consideráveis serviços quer no setor da costura como em vários setoresassistenciais. Porém, a mais significativa dádiva foi a que fizeram osportugueses constitucionalistas António Amaro e António Augusto, que queremosaqui homenagear. Ambos foram vitimas do conflito armado, e efetuaram a mais pura e generosa oferta em benefício dessa causa queabraçaram e consideravam justa deram a vida.
António Amaro
Nasceu em Castelo Velho(5), Portugal, a 24 de abrilde 1891, filho de Eduardo Amaro e de Anna Amaro. Era casado com ChristinaMartins Amaro e tinha a profissão de comerciante, sendo proprietário em Tanabu.Naturalizou-se brasileiro e desempenhou em Tanaby cargos públicos. Há muitotempo que António Amaro se tinha integrado na sociedade, conhecendo a cidade eo sertão. Iniciada a Revolução, fez parte da comissão local do M.M.D.C.. Porém,não totalmente satisfeito com o valioso auxílio que aí prestava, quis fazermais. E fez! Conhecedor da regiçao do porto do Taboado, tornou-se guia dastropas comandadas pelo Capitão José Teixeira Pinto (1.º Batalhão de Rio Preto).A 12 de agosto, ia António Amaro à frente da tropa, próxima do córrego do JacúQueimado, quando ao frontear a residência do Sr. João Wenceslau, uma forçaadversária atacou de surpresa. António Amaro foi o primeiro a cair, com umferimento na cabeça, morrendo nesse mesmo instante. O seu corpo foi atirado aorio Paraná pelas forças governamentais.
5 É possível que se trate do lugar de CasteloVelho, na freguesia da Areosa, concelho e distrito de Viana do Castelo.
António Augusto
Nasceu em Portugal a 12 deabril de 1908, filho de José Varanda e de Maria Madalena. Era casado comSylvina Amélia e deixou uma filha Amélia Augusto. António Augusto trabalhava naEstrada de Ferro Sorocabana, como fogueiro, quando despoletou a Revolução,tendo os seus serviços sido requisitados. Apesar da sua condição deestrangeiro, pôs-se de imediato ao serviço da causa que São Paulo defendia. Efoi no seu posto que no dia 8 de agosto de 1932, entre as estações de Muniz deSouza e Engenheiro Maia, foi ferido numa perna por múltiplas balas. Foitransportado para o Hospital de Sorocaba, tendo aí falecido alguns dias depois.António Augusto foi sepultado em Itapetininga.
Em Jeito de Conclusão
A RevoluçãoConstitucionalista de 1932 é por definição uma contrarrevolução. Não sepretendia fazer letra morta da Lei e alterar os destinos do Brasildiscricionariamente. Antes pelo contrário, pretendia-se o regresso à ordemconstitucional que Getúlio Vargas teimava em não aceitar. A RevoluçãoConstitucionalista de 1932 teve o mérito, entre outros, de ser um apelo àDemocracia em contra-corrente ao que se verificava no mundo ocidental, ondeproliferaram regimes ditatoriais, fascistas e nacional-socialista. É esseespírito democrático que se ressalta. Se o movimento constitucionalista ficouconhecido pela sigla MMDC, à qual se adicionou posteriormente num ato dejustiça o A, talvez a participação portuguesa no movimento se possa doravantereconhecer nesta última letra: A de António Amaro e António Augusto.
[1] Membro daFederação das Academias de História Militar Terrestre do Brasil (cadeiraespecial D. José Luís de Castro, 2.º Conde de Resende e 13.º Vice-Rei doBrasil) e seu Delegado em Portugal.
[2] É de inteira justiça agradecer a prestimosacolaboração do Sr. Silvio Luiz da Rocha Presidente do 14.º Núcleo deCorrespondência “Marianos das Trincheiras” da Sociedade de Veteranos de 32 –MMDC.
[3] Aliançarotativista entre os Estados mais ricos e influentes do país na época, SãoPaulo e Minas Gerais, cujos representantes se alternavam no posto dapresidência da república.
[4] Os tenentistaseram militares e civis que apoiavam as ações do governo.