Publicações

O MONTE E O PAPA QUE NÃO MORREU
7 de  agosto de 2015 | Autor : 4 | Fonte : 4
Lúcio Albuquerque, membro da ACLER
Texto faz parte do livro “O Telefone de Deus”, em fase de edição
Publicado no site gentedeopiniaao.com.br


    João Paulo I morreu. No dia seguinte fui fazer uma reportagem em Guajará-Mirim e encontrei lá meu amigo jornalista Montezuma Cruz. Eu trabalhava com o Alto Madeira, de Porto Velho e com o Estadão de S. Paulo. O Monte em A Tribuna, também daqui e na Folha de S. Paulo.
    Para transmitir tínhamos de mandar os textos via telefone, usando, quando a palavra não era bem entendida pelo taquígrafo na cabine em São Paulo, aquele código que os pilotos utilizam onde da palavra dita se usa apenas a letra inicial (um avião prefixo PP-ADT é citado como “papa papa alfa delta tango”).
    Chegamos aí por volta de 19 horas e havia muita gente na cabine da Teleron (naquele ano ainda em Guajará não havia ligação residencial interurbana), conseguimos convencer as pessoas da urgência que tínhamos e eu fui transmitir meu texto. Acabei, foi a vez do Monte.
    Ele entrou e nem passara 30 segundos botou a cabeça para fora da cabine e gritou: “Lúcio, mataram o papa”. As pessoas nem esperaram. Na sala fiquei só, a telefonista começou a chorar e repetia “De novo, não”.
    O Monte estava voltando, se não me engano do Guaporé, e não sabia ainda que o papa João Paulo I e aí, creio que o operador da cabine, lá em São Paulo, deva ter perguntado se ele sabia da morte do papa, o Monte, sempre muito afobado, nem esperou o resto da história: abriu a porta e deu a notícia.
    Naquela noite, creio, metade de Guajará-Mirim deve ter rezado pelos dois papas, o que morrera e o que o substituiu.

Lúcio Albuquerque
Jornalista, Escritor e Membro da Acler
 

ACLER - Academia de Letras de Rondônia
Seja bem vindo ao nosso site
Desenvolvimento: Portalrondonia.com