Sendo o pagamento da primeira quinzena do mês de agosto de 1934efetuado com cédulas falsas de duzentos mil reis (200$000), conforme constatado pela irmã Catarina Cappelli, diretora do hospital, ocorrência comunicada ao padre Nicoletti, o qual cientificou a Mesa de Rendas e este confirmado o crime, o denunciou ao tenente Alcides Lima Mendes, comandante do contingente especial do exercito em Porto Velho, tendo ele providenciado as adoções das medidas cabíveis.
Foram indigitados a Madeira-Mamoré e 3º Distrito Telegráfico.
A Justiça Federal intentou ação contra os senhores Elpídio Morais Teixeira, Cristóvão Pimentel, Lourival Pinheiro Ferreira, este tesoureiro da Madeira-Mamoré, irmão do capitão Aluízio Ferreira, e outros mais.
Dr. Ruy Araújo chefe de policia do Estado do Amazonas, pessoalmente, presidiu o inquérito policial instaurado no mês de agosto de 1934e concluído em 15 de dezembro deste ano, ficando apurado que em Curitiba/PR e Taubaté/SP, no mês de abril de 1934, começaram a circular numerosas cédulas falsas, recaindo a suspeita de serem autores os funcionários federais desses locais. E que a remessa de dois volumes lacradas, um contendo vinte contos de reis (20:000$000) em cédulas de duzentos mil reis e outro com seiscentos mil reis, tendo apenas uma cédula de duzentos mil reis, sendo falsas todas as deste de valor, foram remetidos à Madeira-Mamoré pela Tesouraria da Diretoria Regional dos Correios e Telégrafos de Manaus/AM. Finalmente concluiu não haver detectado nenhum indicio de culpabilidade contra qualquer servidor da ferrovia Madeira-Mamoré e do 3º Distrito Telegráfico, bem como de pessoas residentes em Porto Velho.
A circulação do dinheiro falso era o assunto primordial em todas esferas, nas residências, nas ruas, nas repartições públicas, no bar central do João Barril e outros. A boataria corria solta, cada qual emitia sua opinião e as mais estapafúrdias deduções. O Alto Madeira sugeriu que o dinheiro tenha vindo da Bolívia, outra conclusão insinuava que as cédulas eram destinadas a serem incineradas na Caixa de Amortização, tendo tomado outra destinação. O Peixotinho diretor da Agência do Correio e Telégrafo alardeava que quando fosse depor na Justiça Federal, não ocultaria nada doesse em quem doesse.
No dia 30 de janeiro de 1935, o Tribunal Federal de Justiça intimou várias pessoas de Porto Velho, entre essas o padre João Nicoletti, o comerciante Miguel Chakian e o Peixotinho para deporem em Manaus/AM, no inquérito judiciário.
A tarde na véspera da viagem, o Peixotinho foi à residência do Capitão Aluízio Ferreira para de despedir. Na qual após ingerir uma xicara de café lhe servida pelo Aristides, mordomo e um dos segurança do Aluízio, juntamente com o Timótio, o Militão e mais o índio Munduca, desabou esparramando-se no chão, sem vida. O anfitrião desesperado lamentava-se que tal funesto episódio fosse ocorrer em sua casa, com tão estimado seu amigo.
No Hospital São José a junta médica atestou como causa da morte, fulminante colapso cardíaco.
Pondo lenha na fogueira como diz meu amigo Zé Catraca, o DR. Collyer (médico), em uma roda de amigos no bar Central em alta voz afirmava que o Peixotinho tinha sido envenenado. A novidade se espalhou célere como fogo em rastilho de pólvora. O autor acolhendo o conselho dos colegas sumiu da cidade para local ignorado.
O padre Nicoletti tendo como advogado de defesa o Dr. Alcides Rocha, ante o Tribunal apenas confirmou a trapaça da qual havia sido vitima, não acusou ninguém. Retornou a Porto Velho em 20 de março de 1935, sendo festivamente recebido.
O desfecho deste bafafá foi tal o da Conceição, ninguém sabe ninguém viu. É mais um episódio da centenária história de Porto Velho, com os atuais, terminado em pizza.
Abnael Machado de Lima
Membro da Academia de Letras de Rondônia