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Passado e Presente: O Entrudo
4 de  março de 2015 |
Autor : 10 | Fonte : 10
Corria o ano de 1846 quando certo comerciante inglês desembarcou no Rio de Janeiro para visitar seu irmão, que ali vivia. Em dado momento de sua estada começou a observar no comércio a exibição de estranhas mercadorias. Tratava-se de bolas e frutas coloridas de cera. Havia também cilindros de papel contendo polvilho de macaxeira. Dias depois, sentado à mesa do café viu um residentes aproximar-se sorrateiramente por trás de um senhor e despejar sobre sua cabeça o conteúdo de dois daqueles cilindros. Durante todo aquele dia presenciou pessoas enfarinhadas por aquelas bombas de polvilho ou molhadas por artefatos coloridos cheios de liquido. Estranhamente notou que além dos jovens, senhoras e cavalheiros já maduros riam às gargalhadas daquele estranho ritual. Depois de admoestadas, essas pessoas prometiam com toda seriedade não repetir, mas quase que imediatamente atingiam com seu projéteis ao primeiro incauto que estivesse à mão.
No dia seguinte soube que haviam costurado a noite as saídas das pernas da calça de um senhor que ali morava. Ao corresponder ao cumprimento matinal esmagaram em suas mãos as tais bolas. Ao sentar-se à mesa passou a ouvir reclamações de que faltava o açúcar no café de um, já no de outro haviam colocado sal. Completamente atônito o inglês passou a presenciar, ou tomar conhecimento, de outras loucuras. Determinado indivíduo roubou várias aves de um vizinho e depois o convidou para janta-las. O outro convidou amigos para uma refeição, na hora de se servirem perceberam que o pernil era de madeira e os pastéis recheados com areia. E as brincadeiras eram infindáveis. Uma delas consistia a enviar portador de um recado cujo conteúdo desconhecia, o destinatário ao abrir o bilhete lia: "Envie o tolo para o senhor B. e peça-lhe para enviá-lo a outro, com o mesmo pedido!" Ficava assim o pobre para cima e para baixo.
A cidade estava enlouquecida, a algazarra e a hilaridade tomavam conta de todos. Soube então o nosso comerciante inglês, que se chamava Thomas Ewbank, que aquilo era o entrudo, antepassado do nosso carnaval. De entrudo para carnaval muito mudou, mas não a essência. Como naquela época o carnaval ainda hoje é o momento para colocar de lado as convenções sociais. No entrudo pessoas sérias poderiam mentir por diversão, assim como hoje homens sérios podem se fantasiar de mulher. Também o entrudo era festejado na Amazônia nessa época, pois informa Walsh que no Rio de Janeiro se usavam algumas seringas de lata para esguichar água nos passantes, mas no Pará já naquela época esses artefatos eram fabricados com borracha utilizados por todos: índios, negros e brancos.
Publicado no jornal O Alto Madeira de 15/02/2015
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