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Esron Penha de Menezes e a História de Rondônia
4 de  março de 2015 | Autor : 10 | Fonte : 10

Por Dante Ribeiro da Fonseca

Se vivo fosse Esron Penha de Menezes completaria no dia 27 próximo passado cem anos de idade. Essa data merece ser lembrada em justa homenagem a um cidadão que no curso de sua longa vida muito contribuiu para a formação do Estado de Rondônia. Contudo, queremos aqui ressaltar aquele que foi, talvez, seu maior legado: o registro de eventos relativos à História de Rondônia.
Esron iniciou a escrever sobre o assunto nos jornais aqui existentes na época: o Alto Madeira e O Guaporé. Intitulou essas crônicas de História Antiga. Em 1980 lançou sua obra Retalhos para a História de Rondônia (Manaus: Imprensa Oficial do Estado do Amazonas, 1980). Nessa obra, Esron uniu-se ao grupo de pioneiros no registro de nossa História. Eram pioneiros pois constituíam-se em, homens radicados e publicando no então Território Federal de Rondônia/Guaporé. Seus retalhos foram publicados no ano anterior à transformação do Território em Estado. Dizemos que se uniu aos pioneiros porque a primeira obra publicada sobre essa temática por indivíduo aqui radicado é de iniciativa oficial. Foi o livro Achegas para a história de Porto Velho, de Antonio Cantanhede (Manaus: Seção de Artes Gráficas da Escola Técnica de Manaus, 1950), feita a pedido do governador do então Território. A segunda obra foi Reminiscências da MADMAMRLY e outras mais do ferroviário Hugo Ferreira (Porto Velho: s/ed., 1969). Em meados da década de 80, mais precisamente no ano de 1985, o então deputado estadual Ângelo Angelim fez aprovar uma lei que instituía a obrigatoriedade do ensino de História e Geografia de Rondônia nas escolas de 1º. e 2º. Graus. Naquele ano, de obra aqui escrita e publicada, apenas essas três e mais No Rastro dos Pioneiros: um pouco da história rondoniana Amizael Gomes da Silva, lançada em 1984 (Porto Velho. SEDUC, 1984).
A circunstância em que o livro de Esron foi escrito diz muito do ambiente intelectual de Rondônia daquela época, pois como vimos pouco se escrevia sobre a História dessa parte do Brasil, e menos ainda se publicava. Tanto assim é que tanto Cantanhede como Esron escreveram estimulados pelo poder executivo, territorial e municipal respectivamente. Em 1978 a prefeitura de Porto Velho instituiu um concurso de monografia sobre a História do Município. Concorreu somente Esron, porém, não conquistou o prêmio. A comissão encarregada de julgar os trabalhos do concurso avaliou a monografia de Esron em termos depreciativos.
Contudo, estimulado por outras pessoas, passou a preparar o trabalho para publicação. O título da obra é assimilado de uma crítica recebida pelo autor, onde o crítico dizia que aquele trabalho não passava de meros retalhos, não se configurando obra de História. Isso ouvi do próprio Esron. Apesar do desestímulo encontrado em alguns a obra foi publicada. Esron Menezes nunca se pretendeu historiador, reconhecia suas carências nessa área. Esperava apenas que sua obra fosse útil aos professores e alunos das escolas de Porto Velho. A realidade foi mais além do que os seus desejos. Retalhos, apesar da crítica esnobe de alguns é um livro de História, mas não daquela História acadêmica. O fato é que não existe somente uma forma de História, mas várias. Ao determinar-se a registrar alguns eventos legou-nos um trabalho que cumpriu a principal tarefa de toda obra publicada, foi útil. Dizemos que foi útil não apenas no sentido das pretensões do autor, mas também porque serviu como fonte de informações para inúmeros trabalhos, inclusive acadêmicos. Assim é que Retalhos continua presente e atual, e continuará a ser consultado.
Considerada sua obra jornalística, dizemos que representa também um valioso contributo para a nossa História naquela parte onde o autor é testemunha ocular, da percepção subjetiva de um homem que viveu nossa história por quase um século. A propósito dessa sua contribuição penso que seria de bom alvitre compilar esses artigos jornalísticos em livro, pois essa obra seria de utilidade para professores e pesquisadores. Hoje, quando muito se escreve em Rondônia sobre sua História, devemos nossas homenagens e pleito de gratidão a homens como Esron Menezes. Esses homens, sem as comodidades de acesso à documentação, sem a possibilidade de um treinamento qualificado, enfim, em quase absoluta carência de meios, mas não de vontade, registraram de forma autodidata e do melhor modo que podiam, a História de Rondônia.

Publicado no jornal O Alto Madeira de 18/01/2015

Dante Ribeiro da Fonseca
 

ACLER - Academia de Letras de Rondônia
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