Eu costumo dizer que um confrade da Academia Rondoniense de Letras-ARL, além de imortal, pelas obras deixadas à posteridade, ocupa, no panteão simbólico dos artistas, um nicho especial, localizado num cantinho da memória, revestido do amor que jorra do coração de cada membro da nossa confraria. Por mais que a vida insista em nos afastar, por motivos, às vezes banais, não esqueçamos que o perdão é uma das maiores virtudes do ser humano. Resta celebrarmos a vida e o companheirismo, esquecendo o egoísmo, as divergências políticas e culturais, próprias de quem está numa jornada pela perfeição. Não gosto de atividades virtuais, penso que adiar a saudade e promover a presença com obras autorais deve ser a meta do acadêmico. Felizmente o futuro aponta para um novo viver, onde o abraço, carregado de pegadas sofridas, volta a ser o resplendor da vida.
No quadro das lembranças pós mortem, sempre haverá uma esponja, apagando a dor revestida de saudade, mas, para os mais próximos, ela se transforma em nostalgia e nunca poderá ser apagada. A Pandemia tem nos afastado, ora pela tristeza da perda, só este ano nos despedimos de três confrades, ora pelas insistentes badaladas de um sino silencioso, que toca no íntimo de todos nós, durante o afastamento social, anunciando mais um pedaço arrancado da humanidade. Foram muitos.
João Correia, ou carinhosamente Joãozinho, como eu gostava de chama-lo é daqueles irmãos pegajosos, que grudam na lembrança da gente, tão competentemente humano que era disputado por duas academias, a ACLER e a ARL. Era comum, ao final do expediente, ele aparecer no escritório da Editora Temática, na Marechal Deodoro, para um bate-papo gostoso; na maioria das vezes, com a sua humildade característica, ele me mostrava um texto novo e ficávamos, por um bom tempo, digladiando com as palavras. Ah! Joãozinho, como você ficou em mim:
Fica o calor, a ansiedade
E a renovação.
Fica um pouco de versos
De poesia e animação.
Fica um pouco de arte.
Ficam as lembranças,
As surpresas, a imagem,
O poema e o amor.
Fica um pouco de mim,
Um pouco de ti,
Um pouco de vida,
Um pouco de dor!...
É pouco,
Muito pouco,
Mas fica.
Fragmentos do poema FICA POUCO, MAS FICA do poeta João Correia, no livro TEU SINAL/Editora Brasil/2009. Até breve, meu nobre amigo, nos aguarde para novos papos letrados, pode demorar um pouco, mas haveremos de nos encontrar, pois embora você já tenha alcançado a glória, BUSCANDO CAMINHOS, nós ainda estamos perdidos no meio da jornada, mesmo sabendo que existe um fim que agrega todos os destinos.
*Texto feito para ser lido durante o lançamento póstumo da obra Buscando Caminhos, de autoria do poeta João Guilherme Correia, Editora Temática 9/07/2021